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quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Era uma vez... - Parte II

Depois de um pequeno-almoço em família, voltei ao quarto e escolhi a roupa que ia vestir. Optei pelo fato preto, que eu de alguma forma sabia que me ia dar um ar mais credível e seguro para a reunião de logo à tarde. Depois de escolhida a roupa, fui tomar banho, e despachar-me para sair. Olhei para as horas e vi que já estava a ficar atrasado, e que àquela hora era provável vir a apanhar mais trânsito. Despedi-me da família, agarrei nas chaves de casa e do carro que estavam na mesa do hall de entrada como sempre. Saí e dei por mim, mais uma vez, parado a pensar:
- E para onde é que eu vou agora? Que é que vou fazer?
Tudo perguntas às quais eu sentia que sabia a resposta, mas não me lembrava, como se estivesse "debaixo da língua". Pensei para mim:
- Há de ser como tudo o resto até agora.
Entrei no carro. Senti-me bem. Era confortável, com tudo do mais moderno que havia. Até a esta data, não tinha a carta, nem nunca tinha conduzido, mas, enquanto pensava nisto, dei por mim a arrancar com o carro e a seguir viagem a caminho da empresa. Ia a meio caminho quando apanho o sinal vermelho.
- Bolas! - Pensei eu - Este semáforo demora sempre uma eternidade a ficar verde.
Olhei novamente para o meu relógio, e vi que afinal não estava tão atrasado quando pensava. Fiquei a pensar no valor que aquele relógio tinha para mim. Tinha-me sido oferecido pela minha mãe no dia em que acabei a licenciatura. Já tinha trocado várias vezes a bracelete, o visor um sem número de pilhas. Eu sabia que já tinha gasto mais nele do que o seu próprio valor, mas isso não importava. O verdadeiro valor dele era sentimental, por tudo aquilo que representava. Representava todo o esforço que eu e a minha mãe fizemos para eu progredir nos estudos, me instruir e poder ter um futuro melhor. Senti a minha mente a divagar, de recordações e recordações que eu sabia serem minhas, mas que sentia ainda não as ter vivido realmente. Eram como um sonho bom. Lembrei-me do nascimento do meu primeiro filho. Da carga emocional que senti naquele momento. Antes disso, só tinha sentido algo parecido com o nascimento da minha irmã. Nisto, ouço uma buzina, que me faz voltar novamente à realidade.
- Já está verde ó camelo, acorda para a vida. - Disse um típico condutor português. Realmente, há coisas que por mais tempo que passe, não mudam.
Finalmente cheguei à empresa. Accionei o sistema de estacionamento automático enquanto via se no e-mail já tinha a resposta da minha irmã, para saber se vinha connosco passar o Natal. Ela estava a trabalhar numa filial da empresa em Londres. Ainda não tinha recebido nada. Estacionado o carro, subi até ao 12.º andar, onde ficava o meu escritório.
- Bom dia Dr. Filipe. - disse a Maria, a secretária - Tem aqueles contratos da Sonae para analisar, é urgente. E não se esqueça que logo às 15h tem a reunião acerca daquele investimento na Madeira. - Continuou, apressadamente.
- Obrigado Maria, não se esqueça de insistir com o Valentim para enviar os relatórios, temos que decidir se avançamos para a compra das acções ou não. - Respondi apressadamente, sem saber de onde saiam todas aquelas palavras, enquanto caminhava em direcção da minha sala.
Entrei, coloquei o casaco no cabide e dirigi-me para a minha mesa. Em cima da mesa, estavam três fotografias emolduradas: uma da minha mãe e irmã comigo, no dia em que a minha irmã acabara o curso; outra dos meus filhos; por fim, uma da minha mulher. Eu sabia que em momentos mais complicados no trabalho, ver aquelas fotografias reforçava a minha energia e atenuava o cansaço.

Continua(...)

1 comentário:

  1. - Já está verde ó camelo, acorda para a vida. - Disse um típico condutor português. Realmente, há coisas que por mais tempo que passe, não mudam.

    tu também não mudas não xP
    AMO-TE e quero mais...

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