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quinta-feira, 26 de maio de 2011

Ele, Ela e A Outra VII



A Outra não digerira toda aquela humilhação. À sua maneira, A Outra amava-o. Esse sentimento fizera despertar nela todo um engenho que nunca possuíra. Queria tê-lo, independentemente do custo que isso acarretasse. Nenhum custo seria excessivo se isso lhe permitisse ficar com ele. Esperou então discretamente à porta da casa d’Eles à espera que Ela saísse, rezando para que quando o fizesse, fosse sozinha. E assim foi. Tal como se de uma detective se tratasse, segui a concorrente até ao destino final, a falésia. Deixou o carro ainda a uma distância para que Ela não se apercebesse da sua presença, e sorrateiramente aproximou-se d’Ela. Aproveitando-se da distracção d’Ela, agarrou-a e começou a desferir-lhe violentas pancadas na cabeça, deixando-a sem reacção. “Agora já sabes o que é que é bom”, pensou para si. Ela estava desorientada, sem saber ao certo o que lhe estava a acontecer. Quando deu por si, estava na berma da falésia, completamente indefesa, até que, por fim, A Outra empurrou-a falésia a baixo. A Outra ficou a ver o vulto d’Ela desaparecer por entre as rochas, e saiu caminhando com um ar triunfante, de dever cumprido.
Alheio a tudo isto, e já alto ia o sol na janela quando Ele acordou. A sua cabeça parecia ter o peso do mundo, tamanha era a ressaca. As costas também se manifestaram depois de uma noite dormida no sofá. A custo, Ele levantou-se, e quando se dirigia para a cama, deparou-se com um pequeno saco à entrada, que passara despercebido na noite anterior. Abriu-o, e dele retirou um par de sapatos azuis muito pequenos, para bebé. Subitamente, e como se de um remédio instantâneo se tratasse, tudo fizera sentido. Todas as indisposições d’Ela e alguma ansiedade e nervosismo faziam agora todo o sentido. Apressou-se a ir buscar o telemóvel, procurou o número d’Ela e ligou. Quando começa a chamar, ouve o som do toque no quarto, e rapidamente se desloca até lá, constatando que este tocava no chão, depois de passada noite ter sido jogado contra o quadro. Apercebeu-se então que Ela não dormira em casa, e que provavelmente estava em casa de uma das amigas. Pensara em dar-lhe espaço, mas aquilo mudava tudo. Percorreu toda a lista de contactos d’Ela e ninguém sabia do seu paradeiro, pelo que restava uma única opção: a falésia. Ele sabia o quando ela dava valor àquele lugar, e só podia ser lá que Ela estava num momento difícil. Colocou uma t-shirt apressadamente e precipitou-se em direcção à falésia. Ao chegar, viu o carro dela estacionado, e esboçou um sorriso.

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Ele, Ela e A Outra VI

Voltou ao quarto, e Ele estava agora de calças e em tronco nu. Precipitou-se na direcção d’Ela mas foi prontamente afastado. Ela apoiou-se na cómoda de costas para ele, agora sentado aos pés da cama. Fitou-o pelo espelho, e num acesso de raiva, arrastou tudo que estava sobre a cómoda. Abriu as gavetas e tudo quanto lhe veio à mão foi também jogado ao chão, enquanto soltou um grito de raiva profunda. O telemóvel começa a vibrar-lhe no bolso, e num acesso de raiva atirou-o na direcção do quadro, fazendo ricochete e tombando o candeeiro da mesa-de-cabeceira.
E agora, estavam os dois ali, sem falar com tanto para dizer, a ensaiar um discurso em silêncio. Ela não estava em si. Em breves instantes o seu mundo desabara. Estava tão feliz não havia nem uma hora, e agora, estava ali, sem saber o que fazer ou dizer. Num súbito acesso de raiva, agarrou nas chaves do carro e saiu disparada porta fora.
Ele continuou no quarto, não tinha coragem de ir atrás dela, já a conhecia, sabia que ela precisaria de espaço e pressioná-la só aumentaria a sua fúria. Não a censurava. Até achava que a reacção d’Ela fora bastante branda. Ele tentou colocar-se no lugar d’Ela, e em nenhuma das hipóteses que conjecturara conseguiria ser tão brando. Dirigiu-se à casa de banho para passar o rosto por água. Não suportava olhar-se ao espelho. A ideia de ter traído aquela que tanto amava por uma simples relação carnal fazia-o sentir nojo de si próprio. Repudiava-se a si próprio por ter deixado toda a situação chegar àquele ponto, ponto esse onde perdera o controlo de tudo. E agora estava ali, só, sem se suportar a si mesmo. Foi até à sala, agarrou na garrafa de whisky que recebera de prenda no Natal que estava no bar da sala, e despejou uma generosa dose no copo. Bebeu tudo de uma só vez, e voltou a encher novamente, um copo a seguir ao outro, até deixar a garrafa vazia, perder o equilíbrio e ficar estendido no chão, tal era o estado de embriaguez.
Ela conduzia o carro mal conseguindo ver o que se encontrava diante dos seus olhos, de tão molhados que estavam das lágrimas. O rebentar das ondas nas rochas sob aquela forte luz de luar era a única forma que sentia ser possível acalmá-la. Fez todo o caminho numa condução irregular porém conseguiu chegar sã e salva à falésia. Desde que se conhecera como gente que frequentava aquele lugar, em pequena com os seus pais, em adolescente com os namorados, e ultimamente, só. Aquele local funcionava como que um retiro espiritual. Quando o trabalho se tornava demasiado stressante ou a relação com ele tinha um momento menos bom, ia para lá, ver o Sol pôr-se lentamente lá ao fundo no horizonte, ou então ver o reflexo da lua brilhante num mar ondulado. Estacionou o carro, saiu e dirigiu-se à extremidade da falésia. Devia ter uma distância de não menos que uns quinze metros até ao mar. Fechou os olhos e abriu os braços. Respirou fundo, como se disso dependesse a sua vida. E ali ficou, perdendo a noção do tempo, do espaço, de tudo. Não sabia se tinham passados poucos minutos ou várias horas, mas sentiu-se leve por instantes ou horas, que não sabia precisar.

domingo, 1 de maio de 2011

Ele, Ela e A Outra V

Ele chegou a casa satisfeito por finalmente ter colocado um ponto final em toda a situação com A Outra. Procurou nos bolsos pela chave de casa, mas não a encontrou, usando a suplente que se encontrava sob o vaso ao lado da porta da cozinha. Sentiu movimento no quarto, e sentiu o cheiro das velas com que partilhara a última noite de verdadeiro amor aquando o aniversário de namoro. Sorrateiramente, foi-se despindo e deixando as peças de roupa pelo chão, até ficar completamente nu. O quarto estava iluminado apenas por algumas velas, e sobre os lençóis de cetim da cama encontravam-se espalhadas algumas pétalas de rosa. Ele viu um corpo sob os lençóis, completamente tapado. Juntou-se a ele, e sentiu aquele cheiro a perfume que tanto gostava. Beijou-a, sentindo o seu corpo. Por momentos pareceu-lhe diferente mas estranhamente familiar, mas deixou-se levar naquele momento que há muito esperava.
Subitamente, a luz do quarto acende-se. Foi como se o tempo quebrasse. Ele sentiu-se confuso. Retirou o lençol sob o qual estava tapado olhando em direcção à porta do quarto. Era Ela. Não quis acreditar, esfregou os olhos, e olhou novamente. Continuava a ser Ela. Já sentindo saber a resposta, olhou sub-repticiamente para o lado, confirmando aquilo que suspeitava: era A Outra. Ela estava paralisada à porta do quarto. Não sabia como reagir. Não sabia se havia de gritar ou chorar, de explodir ou fugir. Mil e um pensamentos percorreram-lhe freneticamente a mente. Ficou especada sem saber o que fazer ou dizer. Ele expulsava A Outra da cama agressivamente. Ao sair da cama, Ela reparou na roupa interior que A Outra tinha vestida. Nada mais nada menos que aquela que usara no casamento. Foi a gota de água. Precipitou-se agressivamente na direcção da loira sensual atacando-a ferozmente. Meio amedrontada, A Outra ficou sem capacidade de ripostar, enquanto era fortemente espancada por Ela e levada em direcção à porta, colocando-a porta fora e jogando a roupa para cima do corpo estendido no chão, fechando a porta num estrondo. Ela respirava ofegantemente, com o coração a bombar a adrenalina corpo fora. Abriu novamente a porta e violentamente retirou a roupa interior que A Outra tinha colocado e lhe pertencia, sem qualquer resistência.