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sábado, 30 de abril de 2011

Ele, Ela e A Outra IV

Para Ele aquele relacionamento não passava de uma forma de aliviar a tensão sem a descarregar em cima d’Ela. Tudo não passara de uma conjugação de factores: Ela andava sempre cansada, indisposta e na cama já há muito que as coisas não funcionavam bem. Ele andava tenso do trabalho, e toda aquela situação piorava o seu estado e aumentava a sua fome de sexo, até que dada noite, depois de um jantar com os Colegas de Trabalho e de muito whisky, A Outra apareceu e escusado será explicar o que acontece quando um homem alcoolizado com falta de sexo é seduzido por uma mulher sensual. Desde então que se encontravam duas a três vezes por semana para o que já se poderia considerar o sexo normal. Toda a relação se baseava apenas e só em sexo, puro e duro. Não haviam dramas pessoais, economia ou discussões. Apenas sexo. Sexo bom. Muito sexo. Mas apenas e só isso mesmo: Sexo.
Para A Outra, aquele provavelmente seria o mais próximo de um relacionamento que ela já tivera. Não pela quantidade de tempo dispendido em sexo, mas pelo tempo que já andavam naquilo. Desde a primeira noite de prazer, já haviam passado cerca de três meses. Nunca tivera mais que um ou dois meses com a mesma pessoa, nem nos tempos de secundária. Perdera a virgindade num carro à beira mar, com um rapaz com bem mais que as 14 primaveras pelas quais tinha passado na altura e que conhecera nessa mesma noite. Desde então seguira-se uma infinidade de rapazes de todas as raças, idades e classes sociais a um ritmo alucinante. Tornara-se amante de sexo, e não se importava com quem teria de o fazer, desde que o fizesse.

quinta-feira, 28 de abril de 2011

Ele, Ela e A Outra III

O plano d’Ela era o que mais se aproximava da realidade, pelo simples facto de incluir algumas, mas não todas, Amigas da Faculdade. Apenas as mais chegadas foram incluídas naquele que poderia ser um dos dias mais importantes da vida d’Ela. Encontraram-se no café que desde o tempo de estudos era o ponto de encontro para longas horas de conversa e não só. Mas aquele era um dia especial. Devidamente acomodadas as Amigas da Faculdade e Ela em volta da mesa redonda, Ela remexe a mala em busca do envelope ainda selado das análises que lhe diriam se a sua suspeita era fundada ou não. Com o envelope nas mãos, suspirou e olhou em redor. As Amigas da Faculdade encorajavam-na de tanta curiosidade, até que finalmente Ela abre o envelope que confirma o facto: estava grávida. Tentou manter a expressão séria, de forma a iludir as companheiras que rodeavam. A expressão das Amigas da Faculdade foi-se fechando gradualmente, crentes na negatividade do resultado, quando Ela diz, “Agora tenho em mãos um problema… Quem vou escolher para madrinha?”. Logo as Amigas reagiram à boa nova, com pequenos saltos e gritos de alegria um tanto ou quanto estridentes. Porém, o pensamento d’Ela estava longe, pensando como iria dar a notícia àquele que era o pai o seu filho ou filha. Por entre planos e esquemas numa alongada conversa de horas, o sol já se escondia por trás da serra, e depois das despedidas, Ela tomou o seu rumo em direcção a casa.

O plano d’Ele, ao contrário do d’Ela, não estava nem perto do que Ela imaginava. Ele olhou nervosamente para o relógio. Tinha combinado às três e meia em frente à loja de antiguidades, local escolhido por ser um tanto ou quanto discreto e perto do destino final. Decidira que aquela seria a última vez, que poria um ponto final em toda aquela história que a seu ver há muito se arrastava. Tudo aquilo o fazia sentir mal. Cada vez que pensava n’Ela, sentia-se de consciência pesada, mas naqueles instantes era tudo tão indescritivelmente prazeroso, que por meros instantes fazia valer a pena. Enquanto estes pensamentos se cruzavam por entre a sua mente, A Outra aparece ao fim da rua, cruzando a esquina. Ele suspirou. A Outra estava mais provocante do que alguma vez a vira. O cabelo esticado ondulava ao sabor da brisa leve. O vestido vermelho justo parecia realçar ainda mais as curvas redondas de uma silhueta invejável. Tudo n’A Outra era como se fosse concebido para atrair mortalmente. Sem trocar uma palavra que fosse, seguiram caminho, até ao motel da vila. Palavras não se ouviram naquelas que foram longas horas dominadas pelo prazer e a luxúria, deixando as hormonas e os instintos animais falar mais alto que tudo. Depois de satisfeitos todos os prazeres carnais e humanos, Ele e A Outra tomaram um duche e saíram. Na porta do quarto, e antes de cada um seguir o seu rumo, calma mas firmemente, Ele disse “Acabou”, virando costas e seguindo em direcção a casa, alheio à reacção em mudo d’A Outra. Ficou estática por momentos, com os olhos prestes a rebentar em lágrimas, tremendo e cerrando os punhos como se fosse explodir a qualquer momento, porém, controlou-se. Respirou fundo, limpando cuidadosamente as lágrimas que não chegaram a cair, evitando borrões na maquilhagem. O seu rosto esboçou um sorriso perverso de quem anseia vingança, e nisto, seguiu o caminho oposto àquele que Ele havia seguido, porém, com o mesmo destino.

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Ele, Ela e A Outra II

O sol espreitava timidamente por entre as nuvens e a cortina quase transparente da janela do quarto. O relógio digital marcava 6 horas e 59 minutos quando Ela acordou, abruptamente, possivelmente de um qualquer sonho menos agradável. Ainda sem acordar com o verdadeiro termo da palavra, porém sem estar a dormir, forçou as pálpebras para que se abrissem para poder ver as horas. “Ainda é cedo”, pensou, e enquanto se virava, viu-o dormir a seu lado. Esboçou um sorriso, e disse para si mesma, “É hoje”, passando suavemente a sua mão pelo rosto do amado, e adormeceu.

Agora o mesmo relógio marcava as 10 horas e 33 minutos, preciso instante em que Ele acordou. Depois de ver as horas, deitou-se de barriga para cima, fitando o tecto com o braço apoiado sobre a testa. Suspirou. Finalmente conseguira dormir. Há noites que dava voltas e voltas na cama, incomodando-a ocasionalmente, provocando os típicos resmungos de quem quer dormir mas que se vê impossibilitado pela agitação do companheiro. Tentando não a acordar, levantou-se suavemente dirigindo-se para a casa de banho. Lavou a cara, e ficou alguns instantes a fitar-se a si próprio no espelho. Olhou para o lado, e via-a dormir com um olhar de culpado. Não sabia como fora capaz. “É hoje”, interiorizou ao largar a toalha no suporte. Vestiu um fato de treino rapidamente para ir comprar pão à mercearia que ficava mesmo ao fim da rua. Dou lado oposto da estrada, estava A Outra. Sensual como sempre, seguida religiosamente pelos olhares de todos os homens que se encontravam na esplanada na qual trabalhava. Por fim, os olhares cruzaram-se, e A Outra lançou-lhe um olhar sensual, mordiscando levemente os seus lábios carnudos realçados com o batom, acenando de seguida, ao qual Ele respondeu atrapalhadamente, como quem tenta evitar que se note que algo mais havia. Entrou na mercearia, sentindo-se observado, quase pressentindo o olhar fixo d’A Outra. Ao sair, agarrou o telemóvel fingindo digitar uma mensagem de forma a evitar o olhar provocador que lhe estava lançado como se de uma armadilha mortal se tratasse.

Ao chegar a casa, ouviu barulho na cozinha. Ela tinha acordado, e estava a preparar o pequeno-almoço. Largou o pão em cima da mesa, para se dirigir a ela, abraçando-a por trás. Ela sorriu, virou-se e retribuiu o abraço, com um longo beijo. Ele amava-a tanto quanto amava sentir aquele beijo sentido logo pela manhã. Tomaram o pequeno-almoço e planearam o que fazer naquele ensolarado sábado de primavera. Ela iria passar uma tarde de mulheres com as Amigas da Faculdade, e Ele cumpriria o habitual ritual de sábado composto por futebol e cerveja com os Colegas de Trabalho. Cada um preparou-se para o seu programa, encontrando-se no banho, que se prolongou com aquilo que já se poderá imaginar o que é. O relógio indicava que faltavam cerca de 15 minutos para as duas horas, e Ela foi a primeira a sair, despedindo-se com um beijo e um “Até logo”, com um sorriso de alegria e ânsia, que Ele não soube interpretar correctamente, dado o seu raciocínio se sentir inibido pela consciência pesada. Não passaram mais de dez minutos e também Ele saiu. Alheios ao facto de os planos expostos não passarem de farsas, Ele e Ela seguiram para o seu verdadeiro propósito.

sexta-feira, 22 de abril de 2011

Ele, Ela e A Outra I

Ela estava debruçada sobre o parapeito da janela do quarto, a soluçando enquanto as lágrimas lhe percorriam a face redonda. Com o peito da mão limpava as lágrimas, borrando a maquilhagem, enquanto fitava a lua cheia. Por momentos desejou partir para lá sem viagem de retorno. Apenas sentia que o seu mundo desabara há menos de uma hora, e não via como poderia reerguê-lo, pelo menos não naquele momento. Sentia que também ela tinha o direito de extravasar esporadicamente. Não queria olhar para trás. Ainda não se sentia preparada. E enquanto procurava em si forças para digerir tudo aquilo, devorava cigarros, um atrás do outro, como se isso pelo menos a acalmasse.

Sentado aos pés da cama, tremendo a perna freneticamente, Ele punha as mãos à cabeça, e não era preciso nenhum curso especializado em expressão corporal para perceber que o que lhe passava pela cabeça era “Foda-se, que é que eu fui fazer?”. Estava em tronco nu, com a braguilha desapertada e sem meias, como quem se vestiu à pressa. E assim fora. Pelo seu peito definido, o qual denunciava muitas horas semanais passadas no ginásio, escorriam grossas gotas de suor. No seu rosto poder-se-ia ver uma única lágrima corrida, embora fosse evidente que pouco ou nada faltaria para que mais se juntassem à lágrima solitária. Ocasionalmente Ele fitava-a na janela, enquanto fumava quase que de forma irracional.

A Outra era uma mulher atraente. As suas curvas eram definidas e expostas, pelo top curto cujo decote mostrava grande parte dos seios volumosos e arrebitados e pela mini-saia de ganga que vestia. O cabelo loiro e os olhos azuis, conjugados com uma boca de lábios carnudos faziam com que A Outra transpirasse sensualidade, como se da personificação do Sexo se tratasse. Pesasse embora o riso histérico e os tiques um tanto ou quanto irritantes, era a queca que muito bom homem gostaria de dar e contar a todos os amigos, o que não se afigurava assim tão inalcançável, dada a lacuna de inteligência da loira sensual.

O quarto estava completamente revirado. As gavetas da cómoda encontravam-se todas abertas e meio cheias, meio vazias, estando o seu conteúdo espalhado por todo o chão da divisão, bem como todas as fotografias e meros objectos decorativos que acumulavam pó por cima dela. O candeeiro de uma das mesas-de-cabeceira estava tombado, e a luz que dele provinha era intermitente, iluminando de forma errática o quadro sobre a cabeceira da cama, também ele longe de estar em perfeitas condições. (...)