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quarta-feira, 27 de abril de 2011

Ele, Ela e A Outra II

O sol espreitava timidamente por entre as nuvens e a cortina quase transparente da janela do quarto. O relógio digital marcava 6 horas e 59 minutos quando Ela acordou, abruptamente, possivelmente de um qualquer sonho menos agradável. Ainda sem acordar com o verdadeiro termo da palavra, porém sem estar a dormir, forçou as pálpebras para que se abrissem para poder ver as horas. “Ainda é cedo”, pensou, e enquanto se virava, viu-o dormir a seu lado. Esboçou um sorriso, e disse para si mesma, “É hoje”, passando suavemente a sua mão pelo rosto do amado, e adormeceu.

Agora o mesmo relógio marcava as 10 horas e 33 minutos, preciso instante em que Ele acordou. Depois de ver as horas, deitou-se de barriga para cima, fitando o tecto com o braço apoiado sobre a testa. Suspirou. Finalmente conseguira dormir. Há noites que dava voltas e voltas na cama, incomodando-a ocasionalmente, provocando os típicos resmungos de quem quer dormir mas que se vê impossibilitado pela agitação do companheiro. Tentando não a acordar, levantou-se suavemente dirigindo-se para a casa de banho. Lavou a cara, e ficou alguns instantes a fitar-se a si próprio no espelho. Olhou para o lado, e via-a dormir com um olhar de culpado. Não sabia como fora capaz. “É hoje”, interiorizou ao largar a toalha no suporte. Vestiu um fato de treino rapidamente para ir comprar pão à mercearia que ficava mesmo ao fim da rua. Dou lado oposto da estrada, estava A Outra. Sensual como sempre, seguida religiosamente pelos olhares de todos os homens que se encontravam na esplanada na qual trabalhava. Por fim, os olhares cruzaram-se, e A Outra lançou-lhe um olhar sensual, mordiscando levemente os seus lábios carnudos realçados com o batom, acenando de seguida, ao qual Ele respondeu atrapalhadamente, como quem tenta evitar que se note que algo mais havia. Entrou na mercearia, sentindo-se observado, quase pressentindo o olhar fixo d’A Outra. Ao sair, agarrou o telemóvel fingindo digitar uma mensagem de forma a evitar o olhar provocador que lhe estava lançado como se de uma armadilha mortal se tratasse.

Ao chegar a casa, ouviu barulho na cozinha. Ela tinha acordado, e estava a preparar o pequeno-almoço. Largou o pão em cima da mesa, para se dirigir a ela, abraçando-a por trás. Ela sorriu, virou-se e retribuiu o abraço, com um longo beijo. Ele amava-a tanto quanto amava sentir aquele beijo sentido logo pela manhã. Tomaram o pequeno-almoço e planearam o que fazer naquele ensolarado sábado de primavera. Ela iria passar uma tarde de mulheres com as Amigas da Faculdade, e Ele cumpriria o habitual ritual de sábado composto por futebol e cerveja com os Colegas de Trabalho. Cada um preparou-se para o seu programa, encontrando-se no banho, que se prolongou com aquilo que já se poderá imaginar o que é. O relógio indicava que faltavam cerca de 15 minutos para as duas horas, e Ela foi a primeira a sair, despedindo-se com um beijo e um “Até logo”, com um sorriso de alegria e ânsia, que Ele não soube interpretar correctamente, dado o seu raciocínio se sentir inibido pela consciência pesada. Não passaram mais de dez minutos e também Ele saiu. Alheios ao facto de os planos expostos não passarem de farsas, Ele e Ela seguiram para o seu verdadeiro propósito.

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