Pesquisar

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Ele, Ela e A Outra VIII - FINAL

Saltou do carro e foi directo ao carro, mas nem sinal d’Ela. Ele não sabia o que pensar. A ideia que lhe passava pela cabeça não podia ser real. Não agora. Não quando deixariam de ser só eles os dois. Não quando surgira um rebento daquele amor, que apesar da fase menos boa, continuava lá, no fundo do seu coração, na essência do seu ser. Não. Olhou na direcção da berma da falésia, e sem saber porquê, uma lágrima percorreu o seu rosto, caindo solitária no chão. Era assim que Ele se sentia agora. Foi até à berma, sem saber se queria ver ou não o que pudesse lá estar. Bem lá no fundo, alojado e protegido das ondas por alguns rochedos, estava o corpo inerte d’Ela. As forças nas pernas faltaram-lhe, e deixou-se cair sobre os joelhos no chão, e soltou um grito, que nunca se soube se foi de raiva ou tristeza.
Passaram-se dias, semanas e até meses, e Ele nunca mais fora o mesmo. Talvez pela culpa que sentia. O arrependimento era tão pesado quanto o mundo, ou talvez até mais. Não haviam mais cores nas flores, nem mais calor do sol. Não havia o cheiro do perfume dela a invadir-lhe as narinas, nem tão pouco o brilho do seu sorriso, ou a suavidade da sua pele. Recordava todos os dias da sua vida aquele fatídico dia, em que tudo acabara. Tal como Ela, também nesse dia Ele foi do Céu ao Inferno. Tornara-se um homem melancólico, carrancudo. Todos diziam que Ele se tornara apenas uma sombra de si mesmo, e nada mais.
A Outra observara de longe o definhar d’Ele. Insistia diariamente, queria reaver aqueles momentos que haviam tido, naquela que para ela fora a sua mais longa relação pseudo-amorosa, mas sem sucesso. Tudo o que Ele lhe oferecia era desprezo, palavras rudes e modos grosseiros. Mas ainda assim, A Outra sentia a necessidade de estar com ele, de o ver. Apesar da sua lacuna de inteligência e consciência, também ela lamentava o que acontecera. Não a morte d’Ela, mas sim no que isso o transformou a Ele. Isso era o que mais lhe custava, a frieza, a indiferença. Isso era o que fazia com que se tornasse insuportável toda aquela situação. Decidira mudar de cidade, por não ter estrutura mental nem psíquica para aguentar o desprezo e o resquício de consciência pesada que se instalara. Desde então, nunca mais ninguém ouvira falar d’A Outra. Comentava-se na padaria, onde as senhoras de alguma idade comentavam desinteressadamente a vida alheia, que se casara com um magnata do ramo financeiro e que partira para as Caraíbas.
Passado algum tempo, também ele desaparecera. Não atendera mais o telemóvel, até que este deixou de tocar. Não atendera quando tocaram à campainha insistentemente. Diziam que também Ele se atirara falésia a baixo. Nunca aparecera um corpo que comprovasse ou desmentisse tal teoria.

quinta-feira, 26 de maio de 2011

Ele, Ela e A Outra VII



A Outra não digerira toda aquela humilhação. À sua maneira, A Outra amava-o. Esse sentimento fizera despertar nela todo um engenho que nunca possuíra. Queria tê-lo, independentemente do custo que isso acarretasse. Nenhum custo seria excessivo se isso lhe permitisse ficar com ele. Esperou então discretamente à porta da casa d’Eles à espera que Ela saísse, rezando para que quando o fizesse, fosse sozinha. E assim foi. Tal como se de uma detective se tratasse, segui a concorrente até ao destino final, a falésia. Deixou o carro ainda a uma distância para que Ela não se apercebesse da sua presença, e sorrateiramente aproximou-se d’Ela. Aproveitando-se da distracção d’Ela, agarrou-a e começou a desferir-lhe violentas pancadas na cabeça, deixando-a sem reacção. “Agora já sabes o que é que é bom”, pensou para si. Ela estava desorientada, sem saber ao certo o que lhe estava a acontecer. Quando deu por si, estava na berma da falésia, completamente indefesa, até que, por fim, A Outra empurrou-a falésia a baixo. A Outra ficou a ver o vulto d’Ela desaparecer por entre as rochas, e saiu caminhando com um ar triunfante, de dever cumprido.
Alheio a tudo isto, e já alto ia o sol na janela quando Ele acordou. A sua cabeça parecia ter o peso do mundo, tamanha era a ressaca. As costas também se manifestaram depois de uma noite dormida no sofá. A custo, Ele levantou-se, e quando se dirigia para a cama, deparou-se com um pequeno saco à entrada, que passara despercebido na noite anterior. Abriu-o, e dele retirou um par de sapatos azuis muito pequenos, para bebé. Subitamente, e como se de um remédio instantâneo se tratasse, tudo fizera sentido. Todas as indisposições d’Ela e alguma ansiedade e nervosismo faziam agora todo o sentido. Apressou-se a ir buscar o telemóvel, procurou o número d’Ela e ligou. Quando começa a chamar, ouve o som do toque no quarto, e rapidamente se desloca até lá, constatando que este tocava no chão, depois de passada noite ter sido jogado contra o quadro. Apercebeu-se então que Ela não dormira em casa, e que provavelmente estava em casa de uma das amigas. Pensara em dar-lhe espaço, mas aquilo mudava tudo. Percorreu toda a lista de contactos d’Ela e ninguém sabia do seu paradeiro, pelo que restava uma única opção: a falésia. Ele sabia o quando ela dava valor àquele lugar, e só podia ser lá que Ela estava num momento difícil. Colocou uma t-shirt apressadamente e precipitou-se em direcção à falésia. Ao chegar, viu o carro dela estacionado, e esboçou um sorriso.

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Ele, Ela e A Outra VI

Voltou ao quarto, e Ele estava agora de calças e em tronco nu. Precipitou-se na direcção d’Ela mas foi prontamente afastado. Ela apoiou-se na cómoda de costas para ele, agora sentado aos pés da cama. Fitou-o pelo espelho, e num acesso de raiva, arrastou tudo que estava sobre a cómoda. Abriu as gavetas e tudo quanto lhe veio à mão foi também jogado ao chão, enquanto soltou um grito de raiva profunda. O telemóvel começa a vibrar-lhe no bolso, e num acesso de raiva atirou-o na direcção do quadro, fazendo ricochete e tombando o candeeiro da mesa-de-cabeceira.
E agora, estavam os dois ali, sem falar com tanto para dizer, a ensaiar um discurso em silêncio. Ela não estava em si. Em breves instantes o seu mundo desabara. Estava tão feliz não havia nem uma hora, e agora, estava ali, sem saber o que fazer ou dizer. Num súbito acesso de raiva, agarrou nas chaves do carro e saiu disparada porta fora.
Ele continuou no quarto, não tinha coragem de ir atrás dela, já a conhecia, sabia que ela precisaria de espaço e pressioná-la só aumentaria a sua fúria. Não a censurava. Até achava que a reacção d’Ela fora bastante branda. Ele tentou colocar-se no lugar d’Ela, e em nenhuma das hipóteses que conjecturara conseguiria ser tão brando. Dirigiu-se à casa de banho para passar o rosto por água. Não suportava olhar-se ao espelho. A ideia de ter traído aquela que tanto amava por uma simples relação carnal fazia-o sentir nojo de si próprio. Repudiava-se a si próprio por ter deixado toda a situação chegar àquele ponto, ponto esse onde perdera o controlo de tudo. E agora estava ali, só, sem se suportar a si mesmo. Foi até à sala, agarrou na garrafa de whisky que recebera de prenda no Natal que estava no bar da sala, e despejou uma generosa dose no copo. Bebeu tudo de uma só vez, e voltou a encher novamente, um copo a seguir ao outro, até deixar a garrafa vazia, perder o equilíbrio e ficar estendido no chão, tal era o estado de embriaguez.
Ela conduzia o carro mal conseguindo ver o que se encontrava diante dos seus olhos, de tão molhados que estavam das lágrimas. O rebentar das ondas nas rochas sob aquela forte luz de luar era a única forma que sentia ser possível acalmá-la. Fez todo o caminho numa condução irregular porém conseguiu chegar sã e salva à falésia. Desde que se conhecera como gente que frequentava aquele lugar, em pequena com os seus pais, em adolescente com os namorados, e ultimamente, só. Aquele local funcionava como que um retiro espiritual. Quando o trabalho se tornava demasiado stressante ou a relação com ele tinha um momento menos bom, ia para lá, ver o Sol pôr-se lentamente lá ao fundo no horizonte, ou então ver o reflexo da lua brilhante num mar ondulado. Estacionou o carro, saiu e dirigiu-se à extremidade da falésia. Devia ter uma distância de não menos que uns quinze metros até ao mar. Fechou os olhos e abriu os braços. Respirou fundo, como se disso dependesse a sua vida. E ali ficou, perdendo a noção do tempo, do espaço, de tudo. Não sabia se tinham passados poucos minutos ou várias horas, mas sentiu-se leve por instantes ou horas, que não sabia precisar.

domingo, 1 de maio de 2011

Ele, Ela e A Outra V

Ele chegou a casa satisfeito por finalmente ter colocado um ponto final em toda a situação com A Outra. Procurou nos bolsos pela chave de casa, mas não a encontrou, usando a suplente que se encontrava sob o vaso ao lado da porta da cozinha. Sentiu movimento no quarto, e sentiu o cheiro das velas com que partilhara a última noite de verdadeiro amor aquando o aniversário de namoro. Sorrateiramente, foi-se despindo e deixando as peças de roupa pelo chão, até ficar completamente nu. O quarto estava iluminado apenas por algumas velas, e sobre os lençóis de cetim da cama encontravam-se espalhadas algumas pétalas de rosa. Ele viu um corpo sob os lençóis, completamente tapado. Juntou-se a ele, e sentiu aquele cheiro a perfume que tanto gostava. Beijou-a, sentindo o seu corpo. Por momentos pareceu-lhe diferente mas estranhamente familiar, mas deixou-se levar naquele momento que há muito esperava.
Subitamente, a luz do quarto acende-se. Foi como se o tempo quebrasse. Ele sentiu-se confuso. Retirou o lençol sob o qual estava tapado olhando em direcção à porta do quarto. Era Ela. Não quis acreditar, esfregou os olhos, e olhou novamente. Continuava a ser Ela. Já sentindo saber a resposta, olhou sub-repticiamente para o lado, confirmando aquilo que suspeitava: era A Outra. Ela estava paralisada à porta do quarto. Não sabia como reagir. Não sabia se havia de gritar ou chorar, de explodir ou fugir. Mil e um pensamentos percorreram-lhe freneticamente a mente. Ficou especada sem saber o que fazer ou dizer. Ele expulsava A Outra da cama agressivamente. Ao sair da cama, Ela reparou na roupa interior que A Outra tinha vestida. Nada mais nada menos que aquela que usara no casamento. Foi a gota de água. Precipitou-se agressivamente na direcção da loira sensual atacando-a ferozmente. Meio amedrontada, A Outra ficou sem capacidade de ripostar, enquanto era fortemente espancada por Ela e levada em direcção à porta, colocando-a porta fora e jogando a roupa para cima do corpo estendido no chão, fechando a porta num estrondo. Ela respirava ofegantemente, com o coração a bombar a adrenalina corpo fora. Abriu novamente a porta e violentamente retirou a roupa interior que A Outra tinha colocado e lhe pertencia, sem qualquer resistência.

sábado, 30 de abril de 2011

Ele, Ela e A Outra IV

Para Ele aquele relacionamento não passava de uma forma de aliviar a tensão sem a descarregar em cima d’Ela. Tudo não passara de uma conjugação de factores: Ela andava sempre cansada, indisposta e na cama já há muito que as coisas não funcionavam bem. Ele andava tenso do trabalho, e toda aquela situação piorava o seu estado e aumentava a sua fome de sexo, até que dada noite, depois de um jantar com os Colegas de Trabalho e de muito whisky, A Outra apareceu e escusado será explicar o que acontece quando um homem alcoolizado com falta de sexo é seduzido por uma mulher sensual. Desde então que se encontravam duas a três vezes por semana para o que já se poderia considerar o sexo normal. Toda a relação se baseava apenas e só em sexo, puro e duro. Não haviam dramas pessoais, economia ou discussões. Apenas sexo. Sexo bom. Muito sexo. Mas apenas e só isso mesmo: Sexo.
Para A Outra, aquele provavelmente seria o mais próximo de um relacionamento que ela já tivera. Não pela quantidade de tempo dispendido em sexo, mas pelo tempo que já andavam naquilo. Desde a primeira noite de prazer, já haviam passado cerca de três meses. Nunca tivera mais que um ou dois meses com a mesma pessoa, nem nos tempos de secundária. Perdera a virgindade num carro à beira mar, com um rapaz com bem mais que as 14 primaveras pelas quais tinha passado na altura e que conhecera nessa mesma noite. Desde então seguira-se uma infinidade de rapazes de todas as raças, idades e classes sociais a um ritmo alucinante. Tornara-se amante de sexo, e não se importava com quem teria de o fazer, desde que o fizesse.

quinta-feira, 28 de abril de 2011

Ele, Ela e A Outra III

O plano d’Ela era o que mais se aproximava da realidade, pelo simples facto de incluir algumas, mas não todas, Amigas da Faculdade. Apenas as mais chegadas foram incluídas naquele que poderia ser um dos dias mais importantes da vida d’Ela. Encontraram-se no café que desde o tempo de estudos era o ponto de encontro para longas horas de conversa e não só. Mas aquele era um dia especial. Devidamente acomodadas as Amigas da Faculdade e Ela em volta da mesa redonda, Ela remexe a mala em busca do envelope ainda selado das análises que lhe diriam se a sua suspeita era fundada ou não. Com o envelope nas mãos, suspirou e olhou em redor. As Amigas da Faculdade encorajavam-na de tanta curiosidade, até que finalmente Ela abre o envelope que confirma o facto: estava grávida. Tentou manter a expressão séria, de forma a iludir as companheiras que rodeavam. A expressão das Amigas da Faculdade foi-se fechando gradualmente, crentes na negatividade do resultado, quando Ela diz, “Agora tenho em mãos um problema… Quem vou escolher para madrinha?”. Logo as Amigas reagiram à boa nova, com pequenos saltos e gritos de alegria um tanto ou quanto estridentes. Porém, o pensamento d’Ela estava longe, pensando como iria dar a notícia àquele que era o pai o seu filho ou filha. Por entre planos e esquemas numa alongada conversa de horas, o sol já se escondia por trás da serra, e depois das despedidas, Ela tomou o seu rumo em direcção a casa.

O plano d’Ele, ao contrário do d’Ela, não estava nem perto do que Ela imaginava. Ele olhou nervosamente para o relógio. Tinha combinado às três e meia em frente à loja de antiguidades, local escolhido por ser um tanto ou quanto discreto e perto do destino final. Decidira que aquela seria a última vez, que poria um ponto final em toda aquela história que a seu ver há muito se arrastava. Tudo aquilo o fazia sentir mal. Cada vez que pensava n’Ela, sentia-se de consciência pesada, mas naqueles instantes era tudo tão indescritivelmente prazeroso, que por meros instantes fazia valer a pena. Enquanto estes pensamentos se cruzavam por entre a sua mente, A Outra aparece ao fim da rua, cruzando a esquina. Ele suspirou. A Outra estava mais provocante do que alguma vez a vira. O cabelo esticado ondulava ao sabor da brisa leve. O vestido vermelho justo parecia realçar ainda mais as curvas redondas de uma silhueta invejável. Tudo n’A Outra era como se fosse concebido para atrair mortalmente. Sem trocar uma palavra que fosse, seguiram caminho, até ao motel da vila. Palavras não se ouviram naquelas que foram longas horas dominadas pelo prazer e a luxúria, deixando as hormonas e os instintos animais falar mais alto que tudo. Depois de satisfeitos todos os prazeres carnais e humanos, Ele e A Outra tomaram um duche e saíram. Na porta do quarto, e antes de cada um seguir o seu rumo, calma mas firmemente, Ele disse “Acabou”, virando costas e seguindo em direcção a casa, alheio à reacção em mudo d’A Outra. Ficou estática por momentos, com os olhos prestes a rebentar em lágrimas, tremendo e cerrando os punhos como se fosse explodir a qualquer momento, porém, controlou-se. Respirou fundo, limpando cuidadosamente as lágrimas que não chegaram a cair, evitando borrões na maquilhagem. O seu rosto esboçou um sorriso perverso de quem anseia vingança, e nisto, seguiu o caminho oposto àquele que Ele havia seguido, porém, com o mesmo destino.

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Ele, Ela e A Outra II

O sol espreitava timidamente por entre as nuvens e a cortina quase transparente da janela do quarto. O relógio digital marcava 6 horas e 59 minutos quando Ela acordou, abruptamente, possivelmente de um qualquer sonho menos agradável. Ainda sem acordar com o verdadeiro termo da palavra, porém sem estar a dormir, forçou as pálpebras para que se abrissem para poder ver as horas. “Ainda é cedo”, pensou, e enquanto se virava, viu-o dormir a seu lado. Esboçou um sorriso, e disse para si mesma, “É hoje”, passando suavemente a sua mão pelo rosto do amado, e adormeceu.

Agora o mesmo relógio marcava as 10 horas e 33 minutos, preciso instante em que Ele acordou. Depois de ver as horas, deitou-se de barriga para cima, fitando o tecto com o braço apoiado sobre a testa. Suspirou. Finalmente conseguira dormir. Há noites que dava voltas e voltas na cama, incomodando-a ocasionalmente, provocando os típicos resmungos de quem quer dormir mas que se vê impossibilitado pela agitação do companheiro. Tentando não a acordar, levantou-se suavemente dirigindo-se para a casa de banho. Lavou a cara, e ficou alguns instantes a fitar-se a si próprio no espelho. Olhou para o lado, e via-a dormir com um olhar de culpado. Não sabia como fora capaz. “É hoje”, interiorizou ao largar a toalha no suporte. Vestiu um fato de treino rapidamente para ir comprar pão à mercearia que ficava mesmo ao fim da rua. Dou lado oposto da estrada, estava A Outra. Sensual como sempre, seguida religiosamente pelos olhares de todos os homens que se encontravam na esplanada na qual trabalhava. Por fim, os olhares cruzaram-se, e A Outra lançou-lhe um olhar sensual, mordiscando levemente os seus lábios carnudos realçados com o batom, acenando de seguida, ao qual Ele respondeu atrapalhadamente, como quem tenta evitar que se note que algo mais havia. Entrou na mercearia, sentindo-se observado, quase pressentindo o olhar fixo d’A Outra. Ao sair, agarrou o telemóvel fingindo digitar uma mensagem de forma a evitar o olhar provocador que lhe estava lançado como se de uma armadilha mortal se tratasse.

Ao chegar a casa, ouviu barulho na cozinha. Ela tinha acordado, e estava a preparar o pequeno-almoço. Largou o pão em cima da mesa, para se dirigir a ela, abraçando-a por trás. Ela sorriu, virou-se e retribuiu o abraço, com um longo beijo. Ele amava-a tanto quanto amava sentir aquele beijo sentido logo pela manhã. Tomaram o pequeno-almoço e planearam o que fazer naquele ensolarado sábado de primavera. Ela iria passar uma tarde de mulheres com as Amigas da Faculdade, e Ele cumpriria o habitual ritual de sábado composto por futebol e cerveja com os Colegas de Trabalho. Cada um preparou-se para o seu programa, encontrando-se no banho, que se prolongou com aquilo que já se poderá imaginar o que é. O relógio indicava que faltavam cerca de 15 minutos para as duas horas, e Ela foi a primeira a sair, despedindo-se com um beijo e um “Até logo”, com um sorriso de alegria e ânsia, que Ele não soube interpretar correctamente, dado o seu raciocínio se sentir inibido pela consciência pesada. Não passaram mais de dez minutos e também Ele saiu. Alheios ao facto de os planos expostos não passarem de farsas, Ele e Ela seguiram para o seu verdadeiro propósito.