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sexta-feira, 22 de abril de 2011

Ele, Ela e A Outra I

Ela estava debruçada sobre o parapeito da janela do quarto, a soluçando enquanto as lágrimas lhe percorriam a face redonda. Com o peito da mão limpava as lágrimas, borrando a maquilhagem, enquanto fitava a lua cheia. Por momentos desejou partir para lá sem viagem de retorno. Apenas sentia que o seu mundo desabara há menos de uma hora, e não via como poderia reerguê-lo, pelo menos não naquele momento. Sentia que também ela tinha o direito de extravasar esporadicamente. Não queria olhar para trás. Ainda não se sentia preparada. E enquanto procurava em si forças para digerir tudo aquilo, devorava cigarros, um atrás do outro, como se isso pelo menos a acalmasse.

Sentado aos pés da cama, tremendo a perna freneticamente, Ele punha as mãos à cabeça, e não era preciso nenhum curso especializado em expressão corporal para perceber que o que lhe passava pela cabeça era “Foda-se, que é que eu fui fazer?”. Estava em tronco nu, com a braguilha desapertada e sem meias, como quem se vestiu à pressa. E assim fora. Pelo seu peito definido, o qual denunciava muitas horas semanais passadas no ginásio, escorriam grossas gotas de suor. No seu rosto poder-se-ia ver uma única lágrima corrida, embora fosse evidente que pouco ou nada faltaria para que mais se juntassem à lágrima solitária. Ocasionalmente Ele fitava-a na janela, enquanto fumava quase que de forma irracional.

A Outra era uma mulher atraente. As suas curvas eram definidas e expostas, pelo top curto cujo decote mostrava grande parte dos seios volumosos e arrebitados e pela mini-saia de ganga que vestia. O cabelo loiro e os olhos azuis, conjugados com uma boca de lábios carnudos faziam com que A Outra transpirasse sensualidade, como se da personificação do Sexo se tratasse. Pesasse embora o riso histérico e os tiques um tanto ou quanto irritantes, era a queca que muito bom homem gostaria de dar e contar a todos os amigos, o que não se afigurava assim tão inalcançável, dada a lacuna de inteligência da loira sensual.

O quarto estava completamente revirado. As gavetas da cómoda encontravam-se todas abertas e meio cheias, meio vazias, estando o seu conteúdo espalhado por todo o chão da divisão, bem como todas as fotografias e meros objectos decorativos que acumulavam pó por cima dela. O candeeiro de uma das mesas-de-cabeceira estava tombado, e a luz que dele provinha era intermitente, iluminando de forma errática o quadro sobre a cabeceira da cama, também ele longe de estar em perfeitas condições. (...)

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