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quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Os Opostos I

Todos os dias Tomás, Tommy para os amigos, a observava de longe na escola. Ela, Joana de seu nome, era talvez a rapariga mais atraente em toda a escola. E popular. Quase toda a gente que interessava da hierarquia social da Secundária a conhecia, saía com ela à noite e estava presente numa das suas muitas fotos no Facebook. Era aliás através da rede social que Tommy sabia o que Joana fazia. Era daquelas raparigas que raramente dava um passo sem publicar no mural, e quando não o fazia, no dia seguinte, aquando a ressaca, publicava as fotos no seu perfil. “Quem me dera ter uma foto com ela”, pensou Tommy para consigo mesmo.

Tommy, por sua vez, era um rapaz praticamente invisível. Pouca gente conhecia, e pouca gente sabia quem ele era. Até mesmo Joana, que pertencia à sua turma desde o início do Secundário parecia nem sequer se aperceber da sua existência. Tommy não se destacava em nada. Não era nem o melhor nem o pior aluno da turma, não se vestia de forma diferente, não era demasiado alto ou baixo e raramente falava. Era o oposto de Joana, que se vestia com roupas provocantes, sempre actualizada dos conceitos e modas de cada época. Ouvia frequentemente Cristina e Ana atrás de si nas aulas de Matemática comentarem a indumentária da colega. Era também uma rapariga extremamente divertida e extrovertida. Talvez fosse por ser tão diferente de Tommy que este tanto se fixara nela. Às vezes dava por si horas a fio a ver as fotos dela no Facebook, a ver os comentários, as publicações, as notas. Tudo. Na escola passava muitos dos intervalos a vê-la ir para trás dos pavilhões fumar. Tommy vira Joana degradar-se aos poucos. Até entrar para a Secundária, segundo o que ouvira, Joana apenas tinha tido um namorado. Agora, passados 2 anos e uns meses, já lhes perdera a conta. Entre o João, capitão da equipa de Andebol da escola, o primeiro que se lembra de ver com ela, e Miguel, vice-campeão nacional de Surf, com quem estava agora, já haviam sido uns quantos. Todos tinham as mesmas características chave: bonitos, fortes e populares, daqueles por quem a população escolar feminina suspirara.

Agora, apesar de não perder o seu encanto, notava-se a diferença. Os intervalos a fumar ganza fizeram com que o seu aproveitamento escolar passasse de satisfatório para mau. Ouvia-a muitas vezes comentar à segunda de manhã com Sofia que não se lembrava do que acontecera nas noites do fim-de-semana, tal deveria ser a quantidade de álcool ou drogas consumidas. Tommy perguntava-se se não seria mesmo a junção das duas que causava esse efeito. Mas ainda assim, não se conseguia desprender de a observar, de a ver.

(Continua...)

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