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quarta-feira, 9 de março de 2011

Os Opostos III

Joana abriu os olhos, lentamente. Sentia-se dorida, com dores pelo corpo todo. Não sabia onde estava. Apesar de acordada, não estava lúcida. Apenas abriu os olhos, e sem se mexer, observou o que conseguia, que não era mais do que o tecto e um candelabro trabalhado. Fechou novamente os olhos e tentou lembrar-se de como ali chegara, mas sem sucesso. Tentou então recuar mais um pouco, à sua última memória. Lembrava-se de ter saído das aulas e ir a casa tomar um banho e trocar de roupa, para ir encontrar-se com Miguel. Apesar de as coisas não andarem bem, uma vez que havia uma semana que o apanhara envolvido com Sandra, que por sinal, era uma das maiores oferecidas da escola. Tentara ultrapassar isso, e passar a tarde com ele, em vez de ir passar a tarde com a irmã mais velha, Alexandra, como era costume todas as sextas, era uma prova em como estava disposta a perdoar e a ultrapassar a traição. Por mais parvo e estúpido que pudesse parecer aos olhos dos outros, Joana conhecia o íntimo de Miguel, e os momentos que passaram tinham sido mágicos, quase. Mas aquela tarde provara que não havia volta a dar. Estavam estranhos, e nem na cama, onde sempre se entenderam, tinha funcionado. Frustrada Joana saiu de casa de Miguel pouco antes de jantar, sem sequer se despedir com um beijo. Sentia-se mal por gostar dele e saber que por mais que tentasse não conseguia ultrapassar a traição. Mesmo sem dizerem nada, ambos sabiam que a relação tinha ficado por ali. Saiu de casa de Miguel, apanhou o autocarro e foi até casa de Sónia, a sua melhor amiga, e por entre lágrimas e fumos a Lua tomava o lugar do Sol que passara o dia ofuscado pelas nuvens.

Sónia era a rebelde da escola. Nunca ninguém percebera como duas pessoas tão diferentes como Joana e Sónia se tinham tornado tão amigas. Enquanto Joana era a menina bonita e popular, Sónia era a rapariga rebelde, com roupas diferentes da maioria e frequentadora assídua de locais rotulados como dos “drogados”, facto que levava a maioria a pensar que a mudança de Joana se devia à companhia de Sónia.

Decididas a esquecer tudo e todos, pegaram no carro e foram para a discoteca do momento, que se encontrava apinhada devido à festa das listas de associação de estudantes. Determinada a esquecer tudo o que lhe ia na mente, Joana bebeu um copo, e depois outro, e outro, até lhes perder a conta. Começou a perder a noção de tudo, o chão parecia fugir provocando várias perdas de equilíbrio. Porém, como que se de um remédio instantâneo se tratasse, viu Miguel. Estava a dançar com Sandra. Agora de outra forma, sentiu o chão fugir-lhe dos pés, não que isso a fizesse perder o equilíbrio físico, mas emocional. Não podia acreditar que aquilo estava a acontecer. Sentia-se mal, usada por ele. Como seria ele capaz de ter estado com ela à tarde, e na mesma noite estar com Sandra? Deslocou-se ao bar novamente, e pediu o mais forte que houvesse ali para beber. E bebeu. Um copo, e lembrava-se de encontrar Miguel atrás do Café da Vila aos beijos com Sandra. Outro copo, e lembrava-se de como a tarde correra mal, de como se sentiam estranhos até na cama. Mais outro copo e a recordação estava à distância de uma rotação para trás, onde se encontravam eles aos beijos. E ainda mais outro copo, seguido de outro, até finalmente não sentir nada, como se todo o seu corpo estivesse sob o efeito de um anestésico forte. Sentiu alguém agarrá-la, dizer-lhe que ia ficar bem, e a única coisa que tentava dizer era o nome de Sónia, de quem há horas que não sabia nada, porém, não passavam de balbucios. Lentamente foi perdendo os sentidos, tentando ver o rosto de quem a levava, mas a vista estava turva, até ficar tudo escuro…

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