- Estás bem? – perguntou Tommy ao verificar que Joana estava consciente.
- Estou… Acho eu. – respondeu Joana, sem perceber ao certo com quem estava a falar.
Levantou-se vagarosamente, de tantas dores que sentia. Ao ver Tommy, recobrou as lembranças escassas da noite anterior, perguntando de seguida, com um tom agressivo:
- Que me fizeste? Porque me levaste da festa?
- Da festa? Qual festa? Deves estar a confundir. Encontrei-te caída no meio da estrada, deviam ser umas 4 horas da manhã. Estavas toda marcada, uma lástima, e achei melhor trazer-te para cá, em vez de te levar a casa. Juro-te que não fiz nada.
Joana estava confusa, não sabia como tinha ido parar à estrada onde Tommy dera com ela inconsciente. Tommy perguntou como fora lá parar, e Joana contara-lhe tudo. Desde a traição de Miguel até ao último copo que se lembrara de beber. Não sabia como nem porquê, mas Joana sentia que podia confiar em Tommy. Passaram-se horas, e disse tudo o que lhe ia na alma. No fim, foi como se lhe tivessem retirado o peso do mundo das costas. Até as dores pareciam ter atenuado. A conversa fluiu, e as semelhanças nos gostos eram impressionantes. Tommy estava no céu. A sua musa estava ali com ele a conversar, e tinham tanto em comum. Era como se há muito que se conhecessem. O tempo passou sem que dessem por isso, e já eram horas de jantar pelo que ele convidou Joana para jantar. Joana olhou para Tommy enquanto este andava atarefado de um lado para o outro na cozinha, a preparar a refeição. Era uma caixa de surpresas. Por instantes esqueceu-se do porquê de ali estar, de como lá chegara, e do que acontecera antes. Era como se fosse algo habitual, e isso era bom. Perguntou-se o quão cega andara para não reparar nele. Conseguira fazê-la rir e esquecer tudo, e até era atraente. Não era nada comparado com os surfistas ou jogadores de andebol com quem andara anteriormente, mas até nem estava nada mal, pensava para si, esboçando um sorriso. O jantar fora mais uma surpresa agradável. Tommy preparara uma massa à bolonhesa magnífica. O relógio de pêndulo da sala dava agora as 11 badaladas, e Joana decidiu que era tempo de regressar a casa. Provavelmente quando chegasse a casa iria ouvir um sermão de todo o tamanho, e ficar de castigo durante uma eternidade. Mas isso não interessava, porque conhecera Tommy. Não sabia como, nem porquê, mas sentia que aquela seria a primeira de muitas tardes passadas com ele, aqueles foram os primeiros sorrisos que deram juntos, e fora naquele dia que tudo começara. Depois de chegar a casa, levada por Tommy e despedindo-se dele com um abraço apertado e um sincero obrigado, deitou-se na cama, fitando o tecto, e pensando para si mesma:
- Há males que vêm por bem.