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domingo, 20 de março de 2011

Os Opostos IV

- Estás bem? – perguntou Tommy ao verificar que Joana estava consciente.
- Estou… Acho eu. – respondeu Joana, sem perceber ao certo com quem estava a falar.
Levantou-se vagarosamente, de tantas dores que sentia. Ao ver Tommy, recobrou as lembranças escassas da noite anterior, perguntando de seguida, com um tom agressivo:
- Que me fizeste? Porque me levaste da festa?
- Da festa? Qual festa? Deves estar a confundir. Encontrei-te caída no meio da estrada, deviam ser umas 4 horas da manhã. Estavas toda marcada, uma lástima, e achei melhor trazer-te para cá, em vez de te levar a casa. Juro-te que não fiz nada.
Joana estava confusa, não sabia como tinha ido parar à estrada onde Tommy dera com ela inconsciente. Tommy perguntou como fora lá parar, e Joana contara-lhe tudo. Desde a traição de Miguel até ao último copo que se lembrara de beber. Não sabia como nem porquê, mas Joana sentia que podia confiar em Tommy. Passaram-se horas, e disse tudo o que lhe ia na alma. No fim, foi como se lhe tivessem retirado o peso do mundo das costas. Até as dores pareciam ter atenuado. A conversa fluiu, e as semelhanças nos gostos eram impressionantes. Tommy estava no céu. A sua musa estava ali com ele a conversar, e tinham tanto em comum. Era como se há muito que se conhecessem. O tempo passou sem que dessem por isso, e já eram horas de jantar pelo que ele convidou Joana para jantar. Joana olhou para Tommy enquanto este andava atarefado de um lado para o outro na cozinha, a preparar a refeição. Era uma caixa de surpresas. Por instantes esqueceu-se do porquê de ali estar, de como lá chegara, e do que acontecera antes. Era como se fosse algo habitual, e isso era bom. Perguntou-se o quão cega andara para não reparar nele. Conseguira fazê-la rir e esquecer tudo, e até era atraente. Não era nada comparado com os surfistas ou jogadores de andebol com quem andara anteriormente, mas até nem estava nada mal, pensava para si, esboçando um sorriso. O jantar fora mais uma surpresa agradável. Tommy preparara uma massa à bolonhesa magnífica. O relógio de pêndulo da sala dava agora as 11 badaladas, e Joana decidiu que era tempo de regressar a casa. Provavelmente quando chegasse a casa iria ouvir um sermão de todo o tamanho, e ficar de castigo durante uma eternidade. Mas isso não interessava, porque conhecera Tommy. Não sabia como, nem porquê, mas sentia que aquela seria a primeira de muitas tardes passadas com ele, aqueles foram os primeiros sorrisos que deram juntos, e fora naquele dia que tudo começara. Depois de chegar a casa, levada por Tommy e despedindo-se dele com um abraço apertado e um sincero obrigado, deitou-se na cama, fitando o tecto, e pensando para si mesma:
- Há males que vêm por bem.

quarta-feira, 9 de março de 2011

Os Opostos III

Joana abriu os olhos, lentamente. Sentia-se dorida, com dores pelo corpo todo. Não sabia onde estava. Apesar de acordada, não estava lúcida. Apenas abriu os olhos, e sem se mexer, observou o que conseguia, que não era mais do que o tecto e um candelabro trabalhado. Fechou novamente os olhos e tentou lembrar-se de como ali chegara, mas sem sucesso. Tentou então recuar mais um pouco, à sua última memória. Lembrava-se de ter saído das aulas e ir a casa tomar um banho e trocar de roupa, para ir encontrar-se com Miguel. Apesar de as coisas não andarem bem, uma vez que havia uma semana que o apanhara envolvido com Sandra, que por sinal, era uma das maiores oferecidas da escola. Tentara ultrapassar isso, e passar a tarde com ele, em vez de ir passar a tarde com a irmã mais velha, Alexandra, como era costume todas as sextas, era uma prova em como estava disposta a perdoar e a ultrapassar a traição. Por mais parvo e estúpido que pudesse parecer aos olhos dos outros, Joana conhecia o íntimo de Miguel, e os momentos que passaram tinham sido mágicos, quase. Mas aquela tarde provara que não havia volta a dar. Estavam estranhos, e nem na cama, onde sempre se entenderam, tinha funcionado. Frustrada Joana saiu de casa de Miguel pouco antes de jantar, sem sequer se despedir com um beijo. Sentia-se mal por gostar dele e saber que por mais que tentasse não conseguia ultrapassar a traição. Mesmo sem dizerem nada, ambos sabiam que a relação tinha ficado por ali. Saiu de casa de Miguel, apanhou o autocarro e foi até casa de Sónia, a sua melhor amiga, e por entre lágrimas e fumos a Lua tomava o lugar do Sol que passara o dia ofuscado pelas nuvens.

Sónia era a rebelde da escola. Nunca ninguém percebera como duas pessoas tão diferentes como Joana e Sónia se tinham tornado tão amigas. Enquanto Joana era a menina bonita e popular, Sónia era a rapariga rebelde, com roupas diferentes da maioria e frequentadora assídua de locais rotulados como dos “drogados”, facto que levava a maioria a pensar que a mudança de Joana se devia à companhia de Sónia.

Decididas a esquecer tudo e todos, pegaram no carro e foram para a discoteca do momento, que se encontrava apinhada devido à festa das listas de associação de estudantes. Determinada a esquecer tudo o que lhe ia na mente, Joana bebeu um copo, e depois outro, e outro, até lhes perder a conta. Começou a perder a noção de tudo, o chão parecia fugir provocando várias perdas de equilíbrio. Porém, como que se de um remédio instantâneo se tratasse, viu Miguel. Estava a dançar com Sandra. Agora de outra forma, sentiu o chão fugir-lhe dos pés, não que isso a fizesse perder o equilíbrio físico, mas emocional. Não podia acreditar que aquilo estava a acontecer. Sentia-se mal, usada por ele. Como seria ele capaz de ter estado com ela à tarde, e na mesma noite estar com Sandra? Deslocou-se ao bar novamente, e pediu o mais forte que houvesse ali para beber. E bebeu. Um copo, e lembrava-se de encontrar Miguel atrás do Café da Vila aos beijos com Sandra. Outro copo, e lembrava-se de como a tarde correra mal, de como se sentiam estranhos até na cama. Mais outro copo e a recordação estava à distância de uma rotação para trás, onde se encontravam eles aos beijos. E ainda mais outro copo, seguido de outro, até finalmente não sentir nada, como se todo o seu corpo estivesse sob o efeito de um anestésico forte. Sentiu alguém agarrá-la, dizer-lhe que ia ficar bem, e a única coisa que tentava dizer era o nome de Sónia, de quem há horas que não sabia nada, porém, não passavam de balbucios. Lentamente foi perdendo os sentidos, tentando ver o rosto de quem a levava, mas a vista estava turva, até ficar tudo escuro…